segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Hora de malhar


O ano já é o do rato, os dias estão passando e se aproximam os Jogos Olímpicos, agitando Pequim, mas apesar de a China ter se transformado em potência olímpica em uma evolução gradual desde sua primeira participação em Olimpíadas, em Los Angeles-1984, cem anos depois da disputa da primeira Olimpíada da Era Moderna, em Atenas-1894, o esporte é encarado no país como uma forma de melhorar a saúde dos jovens.

Estudos apontam que a potência muscular dos adolescentes na China tem decaído nas últimas décadas, o que levou o governo a adotar um "Programa Nacional de Preparo Físico", em 1995, incentivando a prática de esportes pelos jovens, principalmente. Apesar de o estereótipo do chinês ser de um sujeito magro, a obesidade cresce também por lá.

É comum ler que a prática esportiva na China antiga valorizava a harmonia, o que contrasta com a competividade de altíssimo nível de uma Olimpíada, por exemplo. Difícil imaginar, hoje, um atleta como Liu Xiang, recordista mundial dos 110 metros com barreira desde 11 de julho de 2006 (12s88), esteja apenas em harmonia consigo mesmo na desejada findal olímpica, quando buscará o bicampeonato mundial. Liu Xiang acumula também a melhor marca mundial de todos os tempos entre os juniores nos 110m com barreiras, estipulada em 2002: 13s12.

Para o país do tai ji quan (tai chi) é uma outra forma de assimilar os valores ocidentais e há quem garanta que os chineses conseguirão o melhor desempenho já alcançado no quadro de medalhas na história olímpica. Já ouvi de mais de um descendente chinês. Resta aguardar para saber se é torcida dos Pachecos chineses ou se um novo recorde de medalhas de ouro será mesmo estipulado. O Ano do Rato promete.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Beijing 2008 licencia módulo do Ninho


A organização da Olimpíada de Beijing 2008 e a administração do Estádio Nacional transformaram em produto licenciado dos Jogos o primeiro módulo da estrutura metálica desenvolvida para a construção do Ninho do Pássaro.

A peça foi produzida em uma escala 1:100 e representa o primeiro dos 24 módulos desenvolvidos para sustentar o Estádio Olímpico. Cada uma das 5 mil peças vendidas com certificado de autenticidade mede 5,05 centímetros de altura, pesa 10,5 quilos e custa 29.800 yuan, cerca de R$ 7.300, se minhas contas estão certas na conversão para euros e depois para reais. Foram todas produzidas com sobras do material empregado na construção.


Do ponto de vista tecnológico, a estrutura de aço do Estádio Nacional foi a parte mais difícil de ser realizada no projeto. O estádio real tem 40 metros de altura no eixo norte-sul e 69 metros no eixo Leste-Oeste.

Causeway Bay, Hong Kong


Serve como cultura geral, digamos assim. O Estadão publicou uma matéria do correspondente em Genebra, Jamil Chade, sobre uma pesquisa que apurou que o segundo metro quadrado comercial mais caro em todo o planeta Terra fica em Causeway Bay, em Hong Kong.

A liderança é da 5ª Avenida, em Nova York, onde um metro quadrado comercial custa € 849 (R$ 2.200), muito acima de Causeway Bay, onde custa € 686 (R$ 1.780). Na Avenida Champs Elysées, em Paris, custa € 522 ( R$ 1.355).

O metro quadrado mais valorizado no Brasil seria o Shopping Iguatemi, onde custa € 131 (R$ 340). Não entendi a comparação do preço de um endereço privado entre avenidas inteiras, mas enfim, vale a curiosidade.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Beijing 2008 apresenta o seu Cubo D'Água


Uma das obras mais extraordinárias da história dos Jogos Olímpicos foi apresentada oficialmente hoje, o Cubo D'Água, o conjunto aquático que receberá as provas de natação, saltos ornamentais e nado sincronizado de Beijing 2008 e que estava em contrução desde 24 de dezembro de 2003.

Mais de 1 milhão de metros quadrados de Etileno-Tetrafluoretileno (ETFE) foram usados para revestir uma estrutura metálica que sustenta o prédio que ocupa uma área total de 100 mil metros quadrados.

Apesar de só conhecer por fotos (por pouco tempo, espero), o prédio é imponente. O ETFE já havia sido usado para tornar único o Alianz Arena, estádio do Bayern de Munique utilizado na Copa do Mundo da Alemanha 2006, e agora volta para ser uma das pérolas da coroa chinesa neste ano, mostrando o arrojo da obra erguida por um consórcio sino-australiano.

O ETFE, como me ajudou meu amigo Marcos, que é engenheiro químico, é uma película que pode ser comparada a um plástico, com durabilidade de 20 anos, e que vem sendo utilizado em grandes obras que exigem grande transparência. Por seu composto ter cerca de 1% do peso do vidro, tem sido cada vez mais aplicado, além de também ser reciclável.

Sua concepção imita uma bolhas de sabão, que dão um aspecto impressionante à obra. A sofisticação da engenharia civil marca presença nos Jogos Olímpicos, se tornando em um atrativo extra em um dos maiores eventos esportivos do mundo.


Os valores oficiais aplicados em sua construção não foram divulgados, mas especula-se que tenham sido consumidos mais de 140 milhões de dólares (cerca de 240 milhões de reais). Lá dentro haverá uma piscina de 50 metros, outra para aquecimento dos atletas que irão competir e outra para as provas de saltos ornamentais, onde serão disputadas 42 medalhas de ouro.


domingo, 27 de janeiro de 2008

O jade e as medalhas de Beijing 2008


Faltavam 500 dias para a Olimpíada da China quando exibiram as medalhas dos Jogos Olímpicos pela primeira vez. Agora, faltam 193 dias e ainda encontro novidades sobre o significado do jade que estava incrustado nas medalhas.

Chamados de "bi" [pronunciá-se 'pi'], discos de jade verde-escuro com um orificio central eram usados em cultos aos céus, enquanto para os cultos voltados para a terra era usado o "cong" [son], "um bloco de quatro faces com uma abertura cilíndrica no sentido do comprimento", segundo o livro "A Cultura Chinesa", editado por Ding Wei.
Enquando os nobres usavam enfeites de jade para demonstrar sua riquezza, os chineses em geral davam jade de presente aos recém-nascidos para evocar proteção e sorte.

No livro conta-se que para Confúcio, "o brilho do jade (usado nos rituais) representa a bondade e a serenidade e sua clareza imaculada, elegância e refinamento". Dessa forma, com o passar do tempo, o confucionismo se estabeleceu, e os objetos rituais de jade passaram a simbolizar o caráter superior e a perfeição moral.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Concreto e grama


A China tem ao longo de seu território problemas terríveis de desertificação do solo. Depois da revolução de Mao, os espaços gramados eram vistos como marcas da colonização britânica e foram destruídos, potencializando o problema em algumas regiões.


Ciente desses problemas, as soluções de arquitetura no país para a Olimpíada de Beijing 2008 recomendou o uso no Parque Olímpico da "concregrama" ou concreto com grama, o que permitiria a pavimentação do piso sem correr riscos de impermeabilizar a área, uma preocupação de harmonizar o ambiente.


Se vai funcionar com todo mundo lá dentro, só vão saber durante os Jogos, mas é uma idéia que pode ser aplicada em qualquer lugar.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Menos limpo, menos azul



O jornal The New York Times, dos Estados Unidos, publicou matéria na quinta-feira da semana passada contestando onível de excelência das pesquisas sobre a qualidade do ar em Pequim que foram usadas pelo governo para dizer que a meta de "dias de céu azul" foi alcançada.


Informa que a partir de 2006, foram alterados os métodos de análise, sendo que entre outras coisas, duas estações de medição em áreas poluídas foram desativadas e que outras três, em áreas limpas, foram usadas na coleta de dados. Assim, não teria mudado a qualidade do ar, mas os pontos em que as medidas são feitas, o que mostraria também existirem pontos de diferentes concentrações de poluentes na cidade.


A matéria do NY Times informa que são meidos em 84 cidades os níveis de poluição por dióxido sulfúrico, dióxido de nitrogênio e outros poluentes, que são classificados em conjunto em uma escala que vai de 1 a 500, sendo 500 o pior cenário.

Considera-se que qualquer marca abaixo de 101 representa "um dia de céu azul" e que em 1998, ocorreram 100 dias de "céu azul" e que em 2007, foram 246.

Há pelo menos um blog na internet que acompanha a qualidade do nível do ar em Pequim. Para quem quiser acompanhar o assunto em detalhes, é uma opção.

Em busca de um céu de brigadeiro



Realizar a Olimpíada em Pequim vai além de antecipar obras para refazer a infra-estrutura da cidade e mudar o perfil sócio-econômico da capital, que está deixando de ser majoritariamente industrial em seu centro para passar a explorar mais o turismo, se tornando uma moderna porta de entrada para a China.

Ganhar o maior número possível de medalhas é apenas um dos índices de eficiência existente nos Jogos Olímpicos, principalmente para aqueles que assumem a responsabilidade de organizá-los. Além de os estádios estarem quase todos prontos e neles já terem sido-teste para os Jogos, querem demonstrar serem capazes de alcançar as metas estipuladas em áreas muito diversas.

Um dos maiores problemas de Pequim são seus altíssimos índices de poluição, principalmente por haver muitas indústrias defasadas na cidade. Mas eles prometeram na candidatura a sede, que o ar da cidade estaria tão limpo quanto o de Paris na Abertura dos Jogos, o que poderá ser medido para comparação, em agosto.

Não é pouca coisa, algo como transformar Cubatão em Ipanema. Mesmo assim, o governo estipulou uma meta de fazer acontecer 246 dias de céu azul sobre Pequim em 2008. Ou seja, dias em que fosse possível ver o azul do céu, já que as nuvens de poluição podem ser imensas por lá. Anunciaram no fim do ano que conseguiram alcançar o objetivo, de acordo com os parâmetros estipulados por eles mesmos. Para 2008, estipularam em 256 os dias que terão boa qualidade de ar. Em 2007 foi necessário desativar indústrias, com o conseqüente corte de empregos, e foi testado também o impacto que teria promover rodízios de veículos.

A preocupação com o céu vai além da qualidade do ar. A Reuters divulgou que o aeroporto de Pequim fará 1.350 vôos diários para garantir que todos os vôos saiam no horário e que as empresas que não cumprirem o cronograma de julho a setembro, poderão ter a rota atrasada suspensa para todo o trimestre. A nota informa que o número de passageiros no ano passado foi de 185 milhões e que em 2008, irá para algo como 200 milhões. Pouco menos de 25% dos vôos não saíram no horário em 2007 na China.

Mas para que os vôos saiam na hora é fundamental que haja "céu azul" sobre Pequim, pois as grossas nuvens de poluição podem atrasar os vôos em dias. Será interessante acompanhar o que irá acontecer com tudo isso após a Olimpíada. Talvez aí esteja outra grande lição.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Ano Olímpico de 4705


O tempo passou e o Ano Olímpico de 2008 chegou, com Pequim fazendo uma grande festa para celebrar o Ano Novo do calendário ocidental, já que o Ano Novo chinês só será celebrado no dia 7 de fevereiro, quando começará o ano 4705.


Mas o que importa é que seja em 2008 ou em 4705, este é um Ano Olímpico e a atenção do mundo se voltará para Pequim até a Cerimônia de Abertura, dia 8 de agosto, e mais intensamente até dia 24 de agosto.


Dessa forma, o Portal do Estadão disponibilizou material da Time Out sobre atrações e muitas outras informações, com cultura útil sobre o que o turista deve esperar em sua viagem a Pequim.


Uma das informações é que na China não se costuma dar gorjetas, mas há quem deixe trocados sobre a mesa. Mas o visitante não deve se surpreender caso um garçom corra atrás dele para avisar de que esqueceu dinheiro sobre a mesa. As gorjetas muito altas não são aceitas.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A chapa branca é fria


Dizem que nós realmente só compreendemos algo quando sentimos os efeitos que os eventos causam. Não seria, então, questão de saber ou aprender um assunto. Para dominá-lo é essencial senti-lo.


Apesar de haver quem defenda que as diferenças culturais não são assim tão importantes nas relações, é preciso ter consciência de que quando fazemos um gesto, desencadeamos um sentimento, que pode ser muito profundo em alguns casos, mesmo que inconscientes.


Você prepara um plano de negócio com cuidado, elabora relatórios detalhados, faz uma arte requintada, junta tudo com cuidado para não esquecer de nada e entrega em mãos a um possível parceiro chinês dentro de um lindo envelope branco. Pensamento positivo para que dê tudo certo. Mas o que sentirá seu interlocutor ao se ver em frente do tal envelope branco?


No evento organizado nesta semana pela Junior Chamber International Brasil China, Willian Lin disse em palestra que deve ser completamente evitado entregar a um chinês um envelope branco, pois o branco é a cor do luto para o chinês com todos os sentimentos de perda que isso envolve.


Não é possível imaginar como cada um reagirá em uma situação como essa, mas nesse caso é melhor não deixar espaço para riscos. Vale o mesmo para papéis de presente. O chinês tem hábito de dar presentes para agradar o interlocutor, mas mesmo que para nós seja requintado usar um papel todo branco, para eles não pega nem um pouco bem. Willian Lin recomenda o uso da cor vermelha em ambos os casos.


Bandeira branca, então, só se forem os golfinhos pré-históricos que habitam o rio Yangze. É tudo muito diferente e é preciso assimilar essas diferenças da forma menos traumática. Pode parecer besteira, mas nem eles iam querer um blog chapa branca.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Pequenos gestos, grandes negócios


É incrível como pequenos gestos podem ter enormes conseqüências no nosso cotidiano, mas principalmente quando se trata de uma relação de confiança. Quando está sendo desenvolvida com um chinês, então, a atenção a detalhes aparentemente sem importância podem ter desdobramentos incríveis.


A última história que ouvi nesse sentido foi contada ontem por Robert Wong, que "esteve" (como ele prefere) presidente da "Korn/Ferry para o Brasil e é considerado um respeitadíssimo "headhunter", a ponto de ter virado caçador de caça-talentos, classificado pela revista "The Economist" como um dos 200 mais destacados headhunters do mundo e autor do livro "O Sucesso está no Equilíbrio" (ed. Campus).


Wong (rei no dialeto de Nanquim enquanto em Pequim seria Wang), abriu sua palestra ontem, para a Junior Chamber International, contando a história.


Quando se está em uma refeição com chineses, é apropriado você se servir e também servir quem está ao seu lado com seu próprio kuài zi (palavra chinesa para o hashi - em japonês - ou os pauzinhos - em português).


Ao seguir recomendação sua, um amigo dele tomou um cuidado especial ao servir quem estava ao seu lado. Comia, então levava à própria boca o seu kuài zi. Se serviu do que desejava e, antes de servir seu vizinho, virou os palitos ao contrário, evitando assim tocar a comida do outro com a parte que havia levado à boca.


Segundo contou, o anfitrião teve uma reação completamente inesperada: ao ver aquela deferência, se levantou e se curvou à sua frente, em um gesto rígido de agradecimento por sua educação, o que deixa duas lições: a primeira é que quando você for convidado para uma refeição, o anfitrião estará sempre de olho no que você faz, mas não se intimide; a segunda, que virar o kuài zi ao servir o companheiro de mesa é um sinal de refinada educação.


Podem achar que não, mas conhecer detalhes da cultura chinesa facilita muito a aproximação com eles.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O lóng e a fèng


Como canta Jorge Benjor, "Roberto, corta essa, porque lugar de dragão é na caverna... Você trocou uma princesinha, uma princesinha, pelo dragão" É mais ou menos assim que no Brasil se referem a um dragão. É fácil entender os possíveis choques culturais.
Em um casamento chinês são colocados sobre as mesas ideogramas ou imagens de um lóng (dragão) e uma fèng (ave parecida com o pavão), simbolizando a força e a beleza। O dragão é um animal sagrado na China, símbolo máximo do imperador, que levou os chineses a se considerarem os filhos do dragão.
Fico imaginando como foi a recepção, após três mil anos de história, ao Novo Testamento, que no capítulo 12 do livro do Apocalipse, tem 12 citações sobre um dragão, "grande, vermelho, com sete cabeças, dez chifres e, nas cabeças, sete diademas", "que se deteve em frente da mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho quando nascesse" O dragão era o diabo, pronto para devorar Jesus Cristo.
Atualmente, a igreja católica oficial no país é a Associação dos Católicos Patriotas da China, que fundou a Igrja Católica Patriota. Para entender um pouco da relação entre a igreja católica e a China indico o artigo do jornalista Jayme Martins, que ficou 20 anos no país como correspondente internacional.
Dizem que foi por culpa dele que agora um correspondente estrangeiro só pode ficar cinco anos na China. É o que dizem. O artigo é uma aula sobre diversos assuntos.

As faces do Dragão


Os renomados economistas Luiz Carlos Mendonça de Barros, Paulo Pereira Miguel, da Quest Investiments, e José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, escreveram um artigo especial para o jornal "Valor Econômico", publicado em 12 de novembro último, intitulado "As três cabeças do dragão".

Segundo eles, "entender a questão chinesa é fundamental para quelquer planejamento estratégico, no nível empresarial ou nacional", o que não é pouca coisa. Entender a questão chinesa.

Ao dizerem que é uma missão que fica mais difícil a cada dia que passa devido à velocidade das transformações por que passa com a rápida urbanização e sugeriram ver a questão como um dragão de três cabeças, sendo a primeira "a que devora vorazmente quantidades antes inimagináveis de energia, matérias-primas industriais e, cada vez mais, commodities"; a segunda, "a que produz bens manufaturados em elevada escala e com baixo custo... que causou uma deflação global que apenas agora começa a perder força"; e a terceira, "a mais recente... que representa a população da China como grande consumidora global..., ( já que) a incorporação de dezenas de milhões de pessoas ao ano no mercado de trabalho e o rápido crescimento da renda per capita indicam que a Chinha como mercado consumidor é uma realidade cada vez mais próxima".

Gráficos ilustravam características técnicas do desenvolvimento da economia a partir de aspectos como consumo de energia custo unitário do trabalho, destino das exportações (ascendente para América Latina, África, Rússia e Índia e descendente para EUA), PIB etc.

A conclusão do trio, quase uma consultoria, é que "os perfis da nossa indústria e da economia vão mudar, mas não haverá desindustrialização. O que poderá haver são oportunidades perdidas". Indicam que se tenha uma visão ampla dos desafios e oportunidades e que se olhe para o futuro.

No final de outubro assistir a uma palestra do Consul Geral da República Popular da China em São Paulo, Sr. Sun Rong Mao, que tratou basicamente de intercâmbio cultural, mas em sua contextualização, dividia os momentos da China também em três após 1978: até 1980, com a concentração na política econômica, criação de Zonas Econômicas Especiais; de 1981 a 2001, quando se pode constatar a velocidade no desenvolvimento econômico, com alto consumo de matérias primas, "pelo menos duas vezes maior que a dos Estados Unidos e do Japão porque nossa tecnologia não é tão avançada, mas agora buscamos sustentabilidade, que é fundamental"; e a partir de 2002, no qual "avançamos na teoria do crescimento científico sustentável. Estamos construindo uma sociedade hamoniosa, com construção política, econômica e social".

A visão oficial do país, do Consul Geral a universitários de letras da USP. Só no momento em que abriram para perguntas me identifiquei como jornalista, para fazer a minha pergunta. Antes, o Sr. Sun Rong Mao disse que a China é a terceira portência econômica em volume de negócios, que "agora, avaliamos no que os estrangeiros são bons. Os Estados Unidos e a União Européia passam por estagnação econômica, têm problemas. Isso indica que o capitalismo não resolve todos os problemas. Só usar o sistema capitalista não resolverá. Por isso, estamos acançando no capitalismo com características chinesas." E foi enfático: "Trata-se de uma experiência de grande sucesso", disse em português de Portugal, que ao comentar fez rir sua platéia, que já havia percebido o forte sotaque lusitano.

Destacou os números que achou apropriado para mostrar a eficiência do país, dizendo que buscam uma sociedade modestamente abastada: segundo ele, em 1979, o PIB per capita era de 200 dólares (um forte indicador de que estamos falando de um país muito pobre) "e o sonho, na imaginação do chinês, era chegar ao final do século 20 com um PIB per capita de 800 dólares, o que alcançamos em 1998".

Segundo o Consul, foi determinado um plano para em 2000 ter PIB de 1.000 dólares; em 2010, 2.000 dólares e até 2020, 4.000 dólares. E ressaltou: "Em 2006, chegamos a 1.974 dólares. Para isso, teremos de abrir mais a porta e fazer uma reforma política."

A "porta"? Havia dito no ínício da palestra que "capitalismo e socialismo são muito contrários. É preciso ter cuidado para abrir a porta".

As portas estão se abrindo, mas o que cada um vê? A palestra foi encerrada pouco depois que um ativista político fez uso da palavra para pedir que posse interrompida o que consideram uma perseguição política. Inclusive recebi cópias de um livro, que ainda não consegui ler.

Como poucos dias antes este blog já foi chamado de "chapa branca" por em 25 notas não ter criticado a pena de morte na China, pensei muito a respeito, mas ainda não tenho um posicionamento, a não ser o meu pessoal de ser contra a execução de pessoas, principalmente por órgãos do governo, apesar de ouvir argumentos como "mas e quem estupra, mas e quem rouba compulsivamente e não se regenera?"

Agora, como me posicionar em relação à clara determinação dos revolucionários líderes do povo chinês, que exigem autonomia para governar e não aceitam qualquer tipo de questionamento em relação ao que fazem da porta para dentro, não sei ainda. Pretendo aprender e por isso, também, resolvi começar este blog.
Para aprender, no dia 14 fui à FAAP, assisitir à palestra de Guy Sorman, autor de "O Ano do Galo - Verdades sobre a China", sobre o ano de 2005 "quando a China passou por um enorme número de insurreições: revoltas camponesas, sublevações religiosas, greves operárias, petições de militantes democratas, movimentos ecologistas", segundo o material de divulgação da palestra. Sorman, canadense, em inglês, se apresentou como democrata liberal e iniciou sua exposição comentando como o governo chinês está se especializando em relações públicas, na qual investe muito, inclusive com os Jogos Olímpicos, o que faz com que "lendo jornais de qualquer país, só se vê boas notícias": "Eu serei mais equilibrado", disse ele para enquanto iniciava falando de sua visão da China que para ser forte quer ser útil, sendo um núcleo de atividades.

Para Sorman, "os chineses não controlam o mecanismo deles, pois se Estados Unidos e a Europa deixarem de comprar, eles não se mantêm".

Para Sorman, "os chineses não controlam o mecanismo deles, pois se Estados Unidos e a Europa deixarem de comprar, eles não se mantêm". Mesmo assim, ele conta, para 300 milhões de chineses, com moeda forte, educação e saúde, nunca se viveu melhor no país.
Sorman contou que viveu no interior da China e que lá a pobreza é diferente, pois na Índia vivem em certa integração. "São pobres, mas têm direitos não econômicos. Disse que na China não podem se expressar, não podem viajar nem ter atividade religiosa, se não for ligada ao Partido Comunista, que só permite a um casal ter seu segundo filho se o primeiro for uma menina, mas, segundo ele, infelizmente, mil revoltas não fazem uma revolução. O povo só se revolta porque a mulher foi estuprada por um líder do partido ou porque estão confiscando a minha terra para construir uma casa para o líder do Partido Comunista."

Sorman acredita que "o sistema de exploração das pessoas pobres é estável. É uma combinação peculiar de sistema comunista e capitalista e enquanto o mundo não recusar as distorções do sistema comunista, não haverá o que mudar. Como consumidor, tenho interesse direto na produção na China, assim como os brasileiros. Há quem queira boicotar o consumo de produtos da China e os Jogos Olímpicos, mas digo que não porque o chinês é orgulhoso de sua renascença econômica. Temos de fazer a mesma separação da União Soviética das décadas de 60 e 70: separar as pessoas do sistema." Para depois encerrar: "Eu não gosto de ser manipulado pela propaganda do partido chinês. Sou anti-partido, mas não anti-chinês", disse Guy Sorman.

Faces diferentes vistas por óticas diferentes, mas na USP, a Cônsul Geral também foi claro ao falar sobre a pena de morte ao ser questionado pelo ativista político, que sinceramente não me lembro se identificou-se. "A pena capital está prevista na constituição. E vou usar um ditado português para explicar: "Com ferro mata, com ferro morre."
Há muito a ser compreendido.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Chá com Sokan Kato


Uma curiosidade sobre a China é que chá, em chinês, é chá mesmo. Inclusive com o acento, em pin yin. Só que isso não adianta nada porque a pronúncia é diferente e mesmo que você escreva "chá" e mostre a um chinês, ele não vai entender nada porque são poucos os que dominam o pin yin, que é escrever em algarismos romanos a pronúncia dos fonemas chineses.

Como não tomo café, segunda-feira pela manhã tomei um chá com Sokan Kato, diretor da China Turismo, a Chinatur, que voltou sábado da China, para onde levou um grupo de 42 pessoas à Feira de Importação e Exportação de Guangzhou (Cantão), que é semestral.

Segundo me contou, notadamente a cada edição a feira está mais profissional e sua característica está mudando: onde antes se tratava de exportação, agora se negocia também importação, "pois eles precisam de energia, idéias e tudo o mais".

No passado a China já se pronunciou auto-suficiente em tudo e isso lhe rendeu duas Guerras do Ópio com a Inglaterra, que era muito descontente por importar muito dos chineses e não vender nada a eles, o que afetava sua balança comercial.
O que chamou muito a atenção de Sokan é que nem a revista oficial da feira nem em toda a feira havia menção aos Jogos Olímpicos de Beijing 2008. Guangzhou não está incluída no projeto olímpico. Ele e seu grupo chegaram à China por Hong Kong, onde acontecerão as disputas do hipismo dos Jogos. Lá sim há mensagens de "Hong Kong e Beijing unidos pelos Jogos". Em Pequim os logos das Olimpíadas estão em vários pontos da cidade, inclusive na Muralha da China (foto).

Sokan foi a Pequim e aproveitou sua estada para garantir seus negócios. Há mais de um ano ele negocia o recebimento de uma carga de 500 (quinhentos) ingressos para a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos. Já tem 108 (cento e oito) interessados.

Para ter uma idéia de como são raros, a Air China é parceira oficial de Beijing 2008 e colocou anúncio em jornais para infomar que quem comprar uma passagem de primeira classe, ganha ingresso para assistir às Olimpíadas, mas faz uma observação: "menos para as Cerimônias de Abertura e de Encerramento".

Os hotéis com os quais a Chinatur opera normalmente em Pequim foram reservados pelo Comitê Olímpico, mas Sokan contou que já conseguiu 25 apartamentos em um flat e mais 25 no Zhaolong Hotel Beijing, mas garante que dependendo da demanda conseguirá 150 vagas.

Atualmente, uma diária no Zhaolong sai por 350 dólares, mas quem tem o projeto de ir para lá durante os Jogos tem de trabalhar com a idéia de que custará cerca de 700 dólares em agosto de 2008.

No Brasil, a venda de ingressos oficiais será definida pelo Comitê Olímpico, mas Sokan "tem absoluta certeza de que vai ter mais ingressos" graças a seus contatos na China, cultivados em 30 anos, completados em 2008, que sua empresa leva brasileiros para China.

Sokan faz um alerta que vale a pena ser divulgado: atualmente, ninguém sabe como serão oferecidos os ingressos. A China colocou à venda nesta semana 1,5 milhão de ingressos e cerca de 2 mil foram vendidos porque o site não suportou a procura. Então, atenção com empresas desconhecidas que pedem depósito adiantado para garantir ingressos lá na frente: pode ser um golpe.

A nova Pequim


As Olimpíadas Beijing 2008 são um momento para a China se mostrar ao mundo após sua abertura econômica, mas o país tenta aproveitar o momento para apresentar uma nova Pequim.

Não me sai da cabeça a frase-compromisso do ministro do Meio Ambiente da China, Xie Zhenhua, em dezembro de 2000: "Hoje, a qualidade do ar em Pequim não é tão boa quanto a de Paris. Mas em 2008 será igual." Disse isso antes mesmo de Pequim ser anunciada como a sede dos Jogos Olímpicos.

Passados quase sete anos daquele dia, a poluição no céu de Pequim não parece ter mudado tanto assim, mas na verdade, a cidade não é mais a mesma. Apesar de ser a capital do país, Pequim era uma cidade industrial, com antigas e grandes fornalhas e fornos queimando toneladas de carvão (foto).

É mais ou menos como se a capital do Brasil tivesse sido transferida para Cubatão e fizessem os Jogos Olímpicos lá.

No entanto, assim como em Cubatão, muitas dessas siderúrgicas já foram desativadas nas últimas décadas e está cada vez mais difícil encontrá-las, ao menos próximo ao centro. Mais de 200 indústrias foram tiradas da área urbana. A cidade ganhou um novo distrito industrial, mais moderno. Muitas residências já queimam gás natural para ficarem aquecidas no inverno e há investimentos maciços para fomentar empresas de alta tecnologia e potencilizar o turismo, como atesta o historiador e amigo Paulo Vicentini, que mora em Pequim há praticamente cinco anos.

Ele me contou que apesar de ainda ser difícil ver o céu azul, a poluição atmosférica industrial está diminuindo e crescem os distritos tecnológicos de Haidian e Yizhuang, onde há incontáveis empresas de alta tecnologia e mais de uma dezena de universidades e institutos de pesquisa ligados à Academia de Ciências da China.

Bom papo o Paulo Vicentini, que está prestes a tocar um projeto pessoal de percorrer a Rota da Seda. Temos nos falado muito, apesar do fuso-horário.