quinta-feira, 10 de julho de 2008

China pós Olimpíada


Por ser fundamental pensar à frente dos concorrentes para conseguir resultados mais satisfatórios, a menos de um mês dos Jogos Olímpicos de Pequim, a partir de 8 de agosto, há os que já estão olhando no calendário para outubro, quando começa a "Chinese Export Commodities Fair", do dia 15 até 6 de novembro. A Feira de Cantão é a maior feira de exportação da China e nas últimas edições também esteve aberta às negociações para importação de produtos, uma oportunidade para o comércio bilateral.

O momento é favorável. O G1 publica que "o Brasil quer fazer da China seu maior parceiro comercial", segundo informação da agência chinesa de notícias, a Xinhua, citando o secretário de comércio internacional do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Welber Barral. A matéria lembra que "o volume de comércio bilateral saltou em dez vezes entre 2000 e 2006, principalmente nas áreas de produção agrícola e matérias-primas" e divulgou que o vice-ministro de Comércio da China, Ma Xiuhong, acredita haver "muito potencial para os dois lados impulsionarem o comércio, particularmente nos setores de ciência, tecnologia, agricultura e recursos naturais".

Outro dia fiz um levantamento no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio para uma matéria e descobri que de 2003 a 2007 aumentou de 1.635 para 2.160 o número de empresas brasileiras que exportam para a China, um crescimento de cerca de 32%. No mesmo site descobri que o número de empresas que importam da China subiu de 4.737 em 2003 para 12.325 em 2007. Ou seja, houve um acréscimo de cerca de 160% no total de empresas que trazem produtos da China no mesmo período, mesmo com muitas sendo filiais de uma mesma empresa.

Segundo matéria de Sonia Martello, de Guangzhou (Cantão), para a revista Comércio & Serviços número 3, são 14 mil expositores de 17 setores da economia na Feira de Cantão, visitada por "220 mil empreendedores de 210 países" na última edição, encerrada em 30 de abril, na qual teriam sido movimentados US$ 80 bilhões em negócios. Desses, 1,6 mil eram Bā xī rén [pa xi gen] ou brasileiros, que fica mais fácil de entender. A área de exposição tem quatro vezes o tamanho do Parque de Exposiões do Anhembi.

São números que seduzem tanto quanto o canto da sereia, mas é necessário ter conhecimento profundo da realidade da cultura de negociação local para fazer bons negócios. O ideal é ir várias vezes para assimiliar as peculiaridades e conhecer os fornecedores. Preços muito baixos estão ligados a mercadorias com qualidade compatível; apesar de vendedores se expressarem muito bem em inglês, serão os chefes deles que decidirão as condições da negociação e os prazos e eles só falam chinês. É fundamental ter um intérprete. A conversa pode ser longa, pois o chinês gosta de saber com quem negocia.

A revista tem uma dica para quando você estiver com um chinês: de forma alguma deixe à mostra a sola dos sapatos - nem mesmo ao cruzar as pernas. Trata-se de um grande desrespeito. Ao negociar, pense nos hábitos cotidianos dos chineses.

A Chinatur, que replica o conteúdo deste blog em sua página na internet, disponibiliza pacotes de viagem para a Feira de Cantão com saída prevista para o dia 11 de outubro a preços a partir de 3.490 dólares (turismo do dia) mais taxas, com opção de acrescentar três noites em Pequim. Maiores informações podem ser obtidas pelo telefone 11.3112.0022.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

RMB não se chama yuán


Os chineses têm formas bastante peculiares de contar. Para se ter uma idéia, assim como usamos "seis" para contar qualquer coisa e "meia" para falar o número de um telefone, o número dois para eles se chama "èr" mas quando contam algo usam "lián". E assim como em português "meia" e "seis" são palavras diferentes, em chinês "èr" e "lián" têm ideogramas diferentes: "二" e "两".

Só que no modo chinês de pensar, conta-se de forma diferente do que no ocidente. Os chineses têm um elemento extra na cultura deles que convencionou-se chamar de "classificador". Quando você conta duas canetas, você não diz apenas "duas canetas" você diz "duas zhī canetas". Para esse "zhī" não existe tradução porque não existe aplicação para nós. Para três homens é "três ge homens". "Este carro" dizem "este bù carro". Não é da nossa cultura usar isso, mas eles fazem e fazem mais. Tiram o substantivo da frase e usam apenas o classificador, de forma que "duas canetas" vira "duas zhī", "três homens" pode virar "três ge".

Para dinheiro, eles têm esse classificador, também. Sua pronúncia é "yuán", de forma que o dinheiro deles não se chama yuán, apesar de ser utilizado de forma generalizada na imprensa internacional. O dinheiro deles se chama Rén Míng Bì, que significa moeda do povo, cuja abreviação é RMB, da mesma forma que nosso dinheiro se chama Real e sua abreviação é R$, o Dólar é abreviado para US$ e o Euro para €.

Assim como usam Rén Míng Bì para a própria moeda, para o dinheiro dos Estados Unidos (Mĕi Guó) usam Mĕi Yuán e para a da Europa, Ōu Yuán. O Real aparece escrito Hēi Ào (o "h" é pronunciado como "r").

É da nossa cultura fazer algo diferente. Algo que custa 3 mil reais vira "3 paus" sendo que já foi "3 barões", quando o Barão do Rio Branco estampava a nota de mil cruzeiros. E é da cultura dos chineses fazer algo bastante parecido. Informalmente, o classificador "yuán" foi substituído por "kuài", sendo normal ouvir que o preço de algo é "cinco kuài". Eles têm também o "centavo" deles, que se chama "fēn". E têm mais uma coisa que não usamos aqui, unidade de "dez centavos", que é pronunciado "jiăo" mas popularmente conhecido como "máo", de forma que "30 centavos" é "três máo", "70 centavos", "sete máo".

terça-feira, 6 de maio de 2008

O Século da China


Você sabia que em um casamento tradicional chinês a noiva usa um vestido vermelho? E que chineses usam bicicletas elétricas, que fazem cerca de 80 quilômetros com 20 centavos de dólar de carga para carregar sua bateria, para se deslocarem fazendo menos esforço? E que a partir de 1995 foram criados no país cerca de 30 mil áreas de recreação a céu aberto para que os idosos pudessem fazer exercícios físicos? E que há 40 milhões de ditos cristãos na China? Uhm... E que existem escolas para que os pais aprendam e discutam entre si formas de lidar com seus filhos únicos? Sabia?

Essas informações todas estão na últida edição da revista National Geographic Brasil, um volume refinado, com incrível edição de fotos. Os textos retratam muito do cotidiano dos chineses e tratam dos graves problemas causados pela perturbadora poluição que alcança também o rio Amarelo, "que nos últimos 2,5 mil anos transbordou e mudou de curso mais de 1,5 mil vezes, ganhando o apelido de 'Tristeza da China'". O link deste parágrafo oferece várias imagens que não estão na edição impressa.

Um gráfico aponta que em conseqüência da política do filho único, a partir de 2015 vai diminuir o número de pessoas no mercado de trabalho, mas ressalva que não faltará gente para trabalhar devido à absorção de mão-de-obra do campo nas cidades.

Vale muito a pena a leitura até para aprender como é feito o bombardeio de iodeto de prata nas nuvens para que chova em locais determinados.

O editor da revista, Ronaldo Ribeiro, esteve por três meses na China em 1985, quando, segundo ele, os chineses tinham medo de ficar próximos a estrangeiros, que podiam usar poucos hotéis. Ele conta na edição que os carros andavam com faróis apagados para que as lâmpadas fossem poupadas. Mas 22 anos depois, não há mais sinal dos arruinados táxis, que agora são Audis - e andam com os faróis bem acesos.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Escreva em inglês, se comunique em chinês


Estudar mandarim não é uma tarefa nada simples, pois depois que se consegue aprender o significado e a pronúncia correta de um ideograma vem a parte mais difícil de todas, que é a manutenção, trabalhar para não esquecer o significado de cada um e no que se transformam quando estão com outros.

Mas como já há aqueles que vivem em conexão permanente com uma rede, seja via celular ou modem sem fio, um tradutor de textos deverá ajudar os que precisem, de repente, se comunicar em mandarim, também conhecido como chinês.

No FreeTranslation um texto é digitado em inglês e on line ele é traduzido para o mandarim simplificado, de forma que "My name is Valmir" vira "我的名字是 Valmir".

Tem sido útil para um paulista que conheceu uma chinesa em um site de relacionamentos e agora está morando na China com ela. Ela não fala inglês muito bem, ou pelo menos não demonstra para ele saber falar tão bem, então, quando precisam decidir algo muito importante, vão os dois para a frente da tela de um computador e "negociam" por escrito, com a ajuda desse tradutor. Têm histórias ótimas os dois, mas não vêm ao caso agora.

Em caso de apuros, se houver um computador conectado por perto, vale a pena tentar. É uma chance a mais de ser compreendido. Por enquanto é o que se pode fazer, até a Microsoft colocar no mercado seu tradutor simultâneo no MSN, que irá traduzir de inglês para português, chinês, árabe, alemão e outras línguas, como o japonês, por exemplo. Enquanto se fala.

Esta última dica é do blog do Lorenzo Madrid, que esteve recentemente em Pequim, Edimburgo, Santiago do Chile etc. A CNet TV fez uma materiazinha a respeito. Por enquanto pode-se usar o tradutor Windows Live , que também traduz do inglês para o chinês. Mas interessante mesmo será quando o Helvecio Ribeiro terminar seu trabalho no tradutor do MSN. Quem sabe não fica mais fácil encontrar alguém que ajude nos estudos de mandarim...

terça-feira, 8 de abril de 2008

China, uma potência marítima



A afirmação do arquiteto inglês Norman Foster de que a experiência dos chineses em construir navios foi determinante na construção do Teminal 3 do Aeroporto Internacional de Pequim trouxe à memória uma edição da revista Superinteressante de dezembro de 2006, que falava de viagens chinesas ao redor do mundo em 1421, logo após a inauguração da Cidade Proibida, que tinha 1.500 vezes o tamanho da cidade de Londres murada, no início da Dinastia Ming. A população era 50 vezes maior.

A publicação tratava do livro “1421 – O Ano em que a China Descobriu o Mundo”, do inglês Gavin Menzies. Percorri alguns sebos e acabei comprando o livro no Estante Virtual, site na internet que centraliza o acervo de pelo menos 800 sebos ao redor do Brasil.

Estou na página 333 de 550, mas estou espantado desde o início. Após 14 anos de pesquisas e viagens ao redor do mundo, muitas vezes dentro do submarino que comandava como membro da “Real Marinha Britânica”, o autor refez viagens desenvolvidas por frotas chinesas em 1421 a 1423 para narrar o encontro desse povo com culturas tão antigas quanto a sua própria, como os maias. Menciona, por exemplo, a beleza da cidade maia de Palenque, em Chiapas, no México. Visitou "mais de 900 museus" e conversou com especialistas, além de citar uma bibliografia incrível.

Com afirmações contundentes como (em 1421) “os chineses tinham mais de seis séculos de experiência em navegação oceânica” e também “na construção de compartimentos de colisão, que são espaços (submersos) fechados, à prova d´água, esgotados com uso de bombas de rosca [de parafuso ou helicoidal] tipo ‘Arquimedes’ [séculos antes de Leonardo da Vinci tê-las ‘inventado’], o que permitia que trabalhassem abaixo da linha de flutuação. Em começos do período Ming, dispunham mesmo de equipamento de mergulho com tubos de respiração e máscaras”, Menzies vai demolindo página a página todo o conhecimento passado em relação aos descobrimentos, afirmando categoricamente que os europeus chegaram às Américas e à Austrália graças a mapas produzidos por chineses. Palavra de inglês.

Segundo ele, em 1428, Pedro (o Duque de Coimbra, "Príncipe das Sete Partidas", segundo a Wikipedia, filho mais velho do Rei de Portugal Dom João I e irmão de Dom Henrique, o Navegador) teria obtido em Veneza um mapa do mundo que continha descritas todas as partes do mundo e da terra. (página 123) O tal mapa teria sido produzido por chineses e fundamental para guiar os portugueses.

Embasa suas descobertas no conhecimento adquirido na leitura de cartas náuticas e vai fundo nas citações tanto de mapas quanto no trabalho em rochas nas quais os chineses teriam deixado suas marcas ao redor do mundo, em uma postura anti-preservacionista, mas que permitiu a ele identificar os rastros chineses. Chega um momento da leitura em que fica difícil decidir se o mais fantástico era os chineses fazerem o que ele diz que faziam ou ele próprio ter conseguido reconstruir tudo aquilo.

Em relação às Américas, cita e localiza em mapa 11 evidências que provariam a presença chinesa no continente antes de Cristóvão Colombo, entre elas um junco afundado e a existência de uma aldeia chinesa e de pessoas que falavam chinês em Sacramento (EUA); a presença de uma âncora chinesa em Los Angeles (EUA), arte rupestre em caverna no México, onde há também corantes desenvolvidos sob influência de chineses; existência de galinhas asiáticas; índios venezuelanos com DNA chinês; aldeia no Peru de pessoas que falam chinês, país onde foram encontrados bronzes com inscrições chinesas; e âncoras e anzóis chineses encontrados no Equador.

Um junco chinês, chamado Ba Chuan [pronuncia-se Pa Tchuan], teria cerca de 135 metros de comprimento, um monstro na comparação com as Caravelas portuguesas de cerca de 20 metros, como o faz a Superinteressante e também esta imagem aí abaixo. Segundo o autor, em 1421, a segunda esquadra mais poderosa era a de Veneza, que contava com 300 galeras, cujas maiores mediam 45 metros de comprimento e 6 metros de largura e transportavam 50 toneladas de carga, enquanto um Ba Chuan chinês podia transportar 200 toneladas de carga. A China dispunha de cerca de 3.750 embarcações, que para serem construídas consumiram literalmente florestas inteiras e muitas reservas financeiras do país, com um impacto ambiental e econômico que acabou culminando com a queda do imperador pouco tempo depois. Eram 250 navios de tesouro, 1.350 barcos de patrulha, outros 1.350 navios de guerra, 400 navios maiores de guerra e 400 cargueiros para transporte de cereais, água e cavalos.

É impressionante a quantidade de detalhes sobre os chineses e muitos outros povos dessa época medieval, como as comparações em relação ao que representava a Europa nessa época, também destacado na revista. O autor faz comparações a todo instante, como: “Os cientistas europeus só comprovaram no século XVIII o que os chineses sabiam havia séculos, isto é, que algumas plantas podem indicar a presença de ouro e outros metais.”

Ou então: “os europeus dessa época eram quase os únicos a comerem galinhas e seus ovos. No sudeste da Ásia e na China, as galinhas serviam para um fim inteiramente diferente. Nos costumes divinatórios chineses (...) as galinhas melanóticas protegiam o lar de maus espíritos.” Curioso é que atualmente, aqui no Brasil, se fala o mesmo dos gatos. Para esses chineses, provavelmente, comer galinha era tão estranho quanto para nós parece ser comer cachorro... É a cultura.

Além de um livro espetacular, o material pesquisado passou a ser usado também no site de Gavin Menzies, o http://www.1421.tv/index.asp.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Em busca da especiaria perfeita


Marcelo Tass é uma figuraça e foi para Pequim. Resolveu, evidentemente, mostrar o que é que a chinesa tem e experimentar algumas especiarias da diversificada culinária do país. Ficou a impressão de que ele só queria mesmo era mostrar o que havia à disposição, mas lhe disseram que seria de extrema má educação se ele não comesse nada. Acredite, você pode passar horas dentro de uma loja e não comprar nada, mas não deve fazer o mesmo em relação à comida. O chinês dá muito valor à alimentação, e é preciso respeitar esse valor, que é muito profundo na cultura do país.

Mas o que interessa é que o Tass experimentou. Depois de valorizar um bocado a situação com seu jeito todo peculiar, se deu esse prazer. A cara dele é engraçadíssima. Parecia realmente achar que escorpião, cigarra, cavalo marinho e que tais teriam gosto duvidoso, mas no final ele disse que... (vale assistir ao vídeo no UOL).

A matéria é interessante por mostrar como é a venda, como é tudo muito natural, como as pessoas circulam por Pequim e, principalmente, a opinião dele sobre o sabor. As cigarras estão ali à venda como se fossem morango com cobertura de chocolate.

Depois, foi a um restaurante conhecer sopa de ovos com tomate e também ovos de 100 anos, que é envelhecido por 100 dias antes de ser servido, além de Pato de Pequim. Na real? Parece que ele vai sentir saudades de Pequim... Ah, comeu batata frita, também. E alerta para tomar muito, mas muito, cuidado com as pimentas em pedaço. Tá vendo como são as coisas? Depois de fazer cara feia para o escorpiãozinho, se deu conta de que perigosa mesmo é a pimenta...

quarta-feira, 19 de março de 2008

Londres homenageia design chinês


Fazer bem feito dá muito trabalho, custa caro e é recompensador, a ponto de alguns aspectos do design chinês terem ganho uma exposição no Victoria and Albert Museum, em Londres.

Se você está com viagem marcada para a Inglaterra, tem até o dia 13 de julho para visitar “a primeira exibição na Grã Bretanha a explorar a explosão do novo design na China”, a China Design Now.

No dia 4 de abril, das 19h às 20h, Norman Foster falará sobre seu projeto para o recém aberto Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Pequim.

A exposição, que foi inaugurada no último sábado, dia 15 de março, e foca três aspectos do design chinês: a criatividade do design gráfico de Shenzhen, o modo de vida e o mundo fashion de Shanghai e a arquitetura que está transformando velozmente a cidade de Pequim.



Se você não vai para Londres, pode conhecer um pouco do que é mostrado lá se embrenhando pelo site do museu, onde é possível comprar o áudio da visita guiada. Há uma pequena apresentação da exposição em áudio em inglês e em mandarim. E se estiver entediado, ainda pode criar uma personagem que o represente no horóscopo chinês ou então de alguém que você goste e lhe enviar por e-mail.

"Ah, eu vou para Londres e vou visitar exposição sobre design chinês?!" O Victoria and Albert Museum é tão lindo que vale uma visita mesmo que só suas paredes estivessem expostas ao público. E sentar no jardim para comer um sanduíche ou ir até seu bar dá um charme muito especial a esse excelente passeio, ainda mais na primavera que se aproxima. Fica a dica. Metrô South Kensington, Londres.

Boa Páscoa.

segunda-feira, 17 de março de 2008

十五分中文


Assim como viajar é excelente oportunidade para aprender um pouco de uma nova cultura, conhecer um pouco dessa cultura é enriquecedor para quem vai viajar, principalmente se tratando de China, seja para aproveitar mais profundamente uma visita à Grande Muralha ou compreender as motivações e os significados dos atuais protestos no Tibet.

Na linha de que "uma viagem começa muito antes do embarque no aeroporto", comprei um curso prático de chinês chamado "15 Minutos Chinês", lançado no ano passado pela Dorling Kindersley (15-Minute Chinese) e, neste ano, pela Publifolha em português.

Comprei pelo site da editora para ver se me ajuda a estudar e, sinceramente, eu recomendo sem medo. Ele é muito prático, com situações reais, como comprar um laptop, reservar um quarto de hotel ou dizer a um médico que é diabético ou que está sentindo dores no peito. Convenhamos: vai ser fácil chegar até o médico e ele compreender que está com dores no peito? Não... Mas pelo menos vai poder apontar para ele a frase no guia. Espero sinceramente que ninguém precise desse capítulo.

Não, sério: para aprender frases básicas e curtas é um boa opção entre o que já vi nas livrarias. Tem um formato prático e é acompanhado por dois CDs que podem (será que podem?) ser convertidos para MP3 e carregados para todos os lados no bolso em um tocador. Ouvir a pronúncia do que está escrito e traduzido para o português é uma boa forma de aprender alguma coisa em chinês, principalmente com o caos que está o trânsito das grandes cidades ou mesmo para dar alguma utilidade ao tempo que se perde em filas ou aguardando para ser atendido por alguém.

Como o título deste texto dá a entender, >:O) a idéia é que por dia você estude apenas 15 minutos, seja antes de dormir ou ao acordar, ou enquanto espera o filho sair da escola ou toma um café na padaria... É questão de disciplina. E uma boa oportunidade para se divertir com as entonações. Seja como for, cada um dos 12 capítulos é dividido em cinco etapas, um para cada dia da semana, mas, evidentemente, ninguém vai aprender exatamente assim. Não é tão fácil, infelizmente. Mas o método é bom, com frases realmente úteis e curtas. Com perguntas e respostas.

Um ponto positivo são as dicas culturais, como saber que nos hotéis há garrafas térmicas com água quente nos quartos, que se alguém convidá-lo para entrar em casa você deve tirar os sapatos e levar um presentinho, como uma garrafa de cachaça brasileiríssima, que não deve brincar com cães das casas porque eles são ferozes, já que são cães de guarda e não de estimação, ou que os modelos de sapatos na China são normalmente menores que os brasileiros.

Mas com 15 miutos por dia pode selecionar frases que considere mais importantes e ouvir sua pronúncia para saber perguntar sobre o quarto de hotel. O esforço para falar a língua do país na viagem sempre é muito bem recompensado, seja na França ou na Alemanha. Na China , dizem, não é diferente.

É uma boa obra. Para mim, valeu o investimento, apesar de irritantemente ter um defeito inaceitável: além de ter as expressões com os ideogramas, tem o pin yin, que indica para o ocidental como é a pronúncia, mas não há os acentos que indicam o tom da pronúncia e nem explicam por que deixaram isso fora. Para quem estuda chinês é incompreensível terem tomado essa decisão. Os tons mudam absolutamente tudo na língua, não é como português que não faz muita diferença na hora de falar se "português" tem ou não acento. Imperdoável. Apesar de haver chineses que dizem que essa história de tom é coisa para estrangeiro, porque quando eles falam não pensam no tom. Mas se vai ensinar, que ensine corretamente.

Só como curiosidade, no título coloquei em ideograma "15 minutos chinês" e usei "15 minutos zhōng wén" que é a lingua chinesa escrita. A língua chinesa falada seria "15 minutos hān yǔ" (汉语). São esses sinais sobre as vogais que faltam, infelizmente, no "15 minutos chinês", o que tira muito de seu valor. Por isso, é uma boa obra, não excelente

quarta-feira, 12 de março de 2008

A cidade do gelo


Com um limão, nós fazemos uma limonada ou uma caipirinha, dependendo do tipo de sede. Já a cultura chinesa em Harbin [pronuncia-se Rā ěr pīm] é com uma barra de gelo fazer qualquer coisa, até mesmo uma nova cidade, como a desta foto, construída a partir de várias barras de gelo.

Localizada no nordeste da China, na região da Manchúria, próxima à Sibéria, na Rússia, Harbin é a capital da Província de Heilongjiang [Rēi lóm diēm]. O frio extremo do inverno, com temperaturas que chegam a 40º C abaixo de zero, permite que seja realizado ali, a partir de 5 de janeiro, o Festival Internacional de Gelo e Neve, que oficialmente se repete desde 1985, apesar de ter começado bem antes disso. Mais precisamente em 1963. Vale a pena visitar o link aí do lado, pois disponibiliza várias fotos, inclusive dos anos de 2003, 2005 e 2007. Parece que quem vai para lá quer voltar sempre... A abertura acontece no início de janeiro, mas enquanto houver frio intenso, há o que ver por lá.


As obras em neve ficam em espaço separado, mas todas são expostas a céu aberto, ficando ainda mais bonita à noite, devido à iluminação.


Apesar da beleza do festival, 2005 não foi um bom ano para a região, que teve o rio Songhua contaminado em novembro daquele ano por cerca de 100 toneladas de benzeno e nitrobenzeno após a explosão de uma indústria química. O problema ambiental comprometeu a imagem da cidade, tida como uma das dez maiores cidades da China e onde é possível provar pratos típicos da região, muito influenciada pela proximidade com a Rússia.

sexta-feira, 7 de março de 2008

O Dragão levanta suas asas

Comece a identificar seus "memory cards": com a inauguração do Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Pequim, é provável que quem chegue à cidade encha um cartão de memória apenas com fotos do próprio aeroporto, oficialmente em funcionamento desde 2 de março de 1958.

O T3 foi inaugurado em 29 de fevereiro e sozinho ocupa uma área 17% maior que a soma dos cinco terminais de Heathrow, em Londres. É o maior do mundo, e seu teto em forma de dragão mede 3.250 metros de comprimento por 785 metros de largura. São 175 escadas rolantes, 173 elevadores e 437 esteiras deslizantes.

O projeto foi elaborado pelo arquiteto inglês Norman Foster, que compreendeu a necessidade de aceitar a cultura local. Especialistas em Feng Shui estudaram o projeto e sugeriram alterações, que foram atendidas. "O Feng Shui tem um lado científico e outro supersticioso. Nós usamos o lado científico", disse o arquiteto Shao Weiping, ligado à Beijing Architectural Design, parceira de Foster, ao Los Angeles Times.

Jonathan Parr, que trabalha com Foster e esteve envolvido no projeto desde o início, explicou a participação do consultor. "Fomos aconselhados por um especialista em Feng Shui para desenhar a aéra de desembarque. Toda a configuração e desenho foram feitos para serem calmos e convidativos, que é exatamente o que nós queríamos. "

O próprio Foster, no entanto, preferiu falar da estrutura da obra. "Se eu pudesse mostrar a magnífica estrutura em aço, as magníficas colunas definidas por curvas compostas sutis, acredito que você ficaria impressionado. Isso vem da experiência que os chineses têm para construir barcos. Eles são grandes construtores navais."

Em 2006, o aeroporto recebeu 48,65 milhões de passageiros, que usaram 376,6 mil vôos. De 2000 a 2006, passou de 93º para o 28º colocado entre os aeroportos com maior volume de vôos. Em transporte de cargas, passou de 31º para 21º. Em volume de passageiros transportados evoluiu mais: passou de 42º para 9º colocado.

Inicialmente, seis companhias irão atuar no Terminal 3: Sichuan Airlines, Shandong Airlines, Qatar Airways, Qantas Airways , British Airways e El Al Israel Airlines. No aeroporto há 66 companhias aéreas atuando, sendo 11 chinesas e 55 estrangeiras. Há mais de 5 mil vôos disponíveis para 88 cidades na China e para 69 cidades no exterior.

Você pode escolher pousar em Pequim em um superjumbo Airbus A380. Talvez seja uma oportunidade rara para pensar "até que esse aeroporto não parece ser tão grande".

A evolução do Aeroporto Internacional de Pequim
Terminal 1
Inaugurado em 2 de março de 1958. Reformado até 1º de janeiro de 1980 para atender 60 vôos diários e 1.500 pessoas no horário de pico em uma área de 60 mil m2. Fechado com a inauguração do Terminal 2, foi reestruturado e reaberto em 20 de setembro de 2004.
Terminal 2
Construído de outubro de 1995 a novembro de 1999 para atender 26,5 milhões de passageiros por ano, sendo 9.210 em horário de pico em área de 336 mil m2.
Terminal 3
Construído de 6 de abril de 2004 a 28 de fevereiro de 2008, entrará em funcionamento em duas fases, em 29 de fevereiro e 26 de março. Atende atualmente 1.100 vôos diários. Nos Jogos Olímpicos, estima-se que haverá até 1.600 vôos diários em Pequim, mas suporta até 1.900 vôos diários em uma área de 1,3 milhão de m2. Custou cerca de US$ 3 bilhões e quando estava no auge da construção teve 50 mil trabalhadores em seu canteiro de obra. Estima-se que em 2020 receberá 50 milhões de passageiros.

terça-feira, 4 de março de 2008

No Ninho do Dragão


Feng shui, yin e yang e mitologia influenciaram o projeto do Parque Olímpico de Pequim, desenvolvido para expressar os contornos de um dragão, representante da energia vital da Terra. De acordo com o livro do concurso que definiu o projeto, há um ditado chinês que diz algo como “Quando a energia vital monta o vento, se dispersa; Quando encontra a água, é preservada”. Lung é o dragão responsável por trazer chuva.

A boca do Dragão está voltada para o Rio Qing, onde começa o tratamento da água que será distribuída por todo o Parque Olímpico; seu corpo passa pelo Ninho, o Estádio Olímpico. Parece chocá-lo.

Se tudo gira em torno de alguma coisa, Pequim está dividida em anéis que circundam a Cidade Proibida. No centro, há um eixo que aponta a linha norte-sul da cidade, que graças aos Jogos Olímpicos, está se movendo para o norte.

O Parque Olímpico ocupa uma pequena parte dos anéis três, quatro, cinco e seis, até o Parque Florestal Nacional, agora Parque Florestal Olímpico, por onde passa a Rodovia do Quinto Anel. Seu projeto envolve construções com o que há de mais moderno científica e tecnologicamente para “integrar o desenvolvimento de longo prazo com obras de curto prazo e espaços reservados para o desenvolvimento futuro”.

Sua área mede 113,5 km² e reúne 10 arenas de competições para 11 modalidades, a Vila Olímpica, onde ficarão os atletas, os centros de imprensa e mídia e o Parque Florestal, que ocupa área de 68 km².

O Ninho e o Cubo D´Água foram construídos próximo ao ponto onde a Rodovia Norte do Quarto Anel cruza o eixo norte-sul da cidade.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Concurso definiu o Parque Olímpico


Graças ao Sokan, da Chinatur, e a seus contatos na China, tive acesso ao livro "International Competition for Landscaping of Forrest Park and Central Zone in Olympic Green". Ao invés de tentar traduzir e facilmente cair em um erro nesse caso, vou contar do que se trata, e o título ficará subentendido, assim como parte da cultura chinesa por trás dessa obra.

A Comissão de Planejamento Municipal de Pequim, o Distrito de Chaoyang e a "Secretaria" Paisagística de Pequim, destacadas pela Prefeitura de Pequim, convidaram em julho de 2003 os principais escritórios de design do mundo especializados em planejamento urbano, paisagístico e de engenharia ambiental para apresentarem projetos para uma seleção que definiria como seria a construção do Parque Florestal e da Zona Central do Parque Olímpico.

Participaram da pré-seleção 51 projetos desenvolvidos por 91 entidades independentes, que podiam criar consórcios, representando 12 países: Alemanha, Austrália, Canadá, China, Coréia do Sul, Estados Unidos, França, Holanda, Inglaterra, Japão, Singapura e Suíça. Foram selecionados oito projetos. O oito é o número de sorte da China, que abrirá sua Olimpíada às 8 horas e 8 minutos da noite de 8/8/2008.

Foi então montada uma equipe com 30 especialistas, que elaboraram relatórios com as bases técnicas de cada um dos projetos para municiar o júri selecionado, que contou com 13 componentes de quatro países, sendo oito da China e cinco dos demais. Participaram dessa etapa engenheiros, horticultores, economistas, desenhistas, representantes do Comitê Olímpico Chinês (Bocog) e representantes da Prefeitura de Pequim, que selecionaram três projetos, da EDAW Inc. em parceria com a China Architecture Design & Reserch Group, da Sasaki Associates, Inc. em parceria com a Beijing Tsinghua Planning Corporation e da Turen Design Institute. Uma votação pública escolheu os dois primeiros e um quarto projeto, do consórcio Beijing Park Society, Beijing China Research Center of Landscape Architectural Design and Planning, Beijing Topsense Landscape & Design Co. Ltd., Tianxia Original Design Ltd.

Preciosismo citar o nome de todas as empresas, mas conquistaram isso por mérito. O livro foi lançado para documentar o concurso. A idéia quando os projetos foram requisitados, segundo o editor da obra, era refletir o conceito de "Olimpíada Verde, Olimpíada Tecnológica e Olimpíada do Povo. Mesmo com o prefácio tendo sido assinado em dezembro de 2003, as informações são excelentes referências sobre o local.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

É preciso tratar bem o turista


No momento em que fico sabendo que a agência de turismo Chinatur passou a disponibilizar em seu site os textos deste blog, leio na coluna Última Moda, de Alcino Leite Neto, na Folha de S. Paulo, uma nota que chama a atenção para os cuidados necessários no trato ao turista.

Informa que agências de turismo da China passaram a boicotar as Galeries Lafayette depois que um casal de chineses foi destratado e levado à polícia.

A nota destacava ainda que os chineses estão entre os povos que mais têm aumentado sua presença na França como turistas, o que a ocorrer também no Brasil.

A foto que ilustra o texto foi retirada de http://www.TravelerPhotographs.com.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Vamos jogar cùjú?


Se o Brasil é o país do futebol, será que um dia a China voltará a ser o país do cùjú? Em chinês, "cu" - por favor, pronuncia-se [su] - significa chutar e "ju" [tju] bola de couro, e dava nome para o futebol local que, atenção, era jogado há mais de 2.500 anos.

A foto é de uma bola utilizada no esporte, mas não encontrei um texto que dissesse de quanto tempo atrás, mas o esporte foi citado pelo site da Fifa, que reconheceu sua antiguidade.

Segundo o ChinaCulture.Org, o jogo era composto por 12 jogadores de cada lado, sendo seis "goleiros" para guardar os seis gols que tinham de cada lado. Imagina só: 12 gols! Devia sair muito gol durante os jogos, ao menos na Dinastia Han, e era um jogo de elite, assim como no Brasil, quando foi introduzido.

As imagens em pinturas têm muitas mulheres praticando o cùjú, o que talvez explique o fato de a China ter uma das melhores seleções femininas de futebol do mundo enquanto a masculina ainda terá de fazer muito intercâmbio para se tornar verdadeiramente competitiva.
Mas havia mais de um cùjú, o zhu qiu, tinha uma rede e jogadores dos dois lados, como se fosse o futevôlei, e o bai da não tinha gols. Está aí o poder da Fifa, ter definido uma regra e colocado o mundo todo para jogar, incluindo os determinados chineses.

Hora de malhar


O ano já é o do rato, os dias estão passando e se aproximam os Jogos Olímpicos, agitando Pequim, mas apesar de a China ter se transformado em potência olímpica em uma evolução gradual desde sua primeira participação em Olimpíadas, em Los Angeles-1984, cem anos depois da disputa da primeira Olimpíada da Era Moderna, em Atenas-1894, o esporte é encarado no país como uma forma de melhorar a saúde dos jovens.

Estudos apontam que a potência muscular dos adolescentes na China tem decaído nas últimas décadas, o que levou o governo a adotar um "Programa Nacional de Preparo Físico", em 1995, incentivando a prática de esportes pelos jovens, principalmente. Apesar de o estereótipo do chinês ser de um sujeito magro, a obesidade cresce também por lá.

É comum ler que a prática esportiva na China antiga valorizava a harmonia, o que contrasta com a competividade de altíssimo nível de uma Olimpíada, por exemplo. Difícil imaginar, hoje, um atleta como Liu Xiang, recordista mundial dos 110 metros com barreira desde 11 de julho de 2006 (12s88), esteja apenas em harmonia consigo mesmo na desejada findal olímpica, quando buscará o bicampeonato mundial. Liu Xiang acumula também a melhor marca mundial de todos os tempos entre os juniores nos 110m com barreiras, estipulada em 2002: 13s12.

Para o país do tai ji quan (tai chi) é uma outra forma de assimilar os valores ocidentais e há quem garanta que os chineses conseguirão o melhor desempenho já alcançado no quadro de medalhas na história olímpica. Já ouvi de mais de um descendente chinês. Resta aguardar para saber se é torcida dos Pachecos chineses ou se um novo recorde de medalhas de ouro será mesmo estipulado. O Ano do Rato promete.