quarta-feira, 14 de maio de 2008

RMB não se chama yuán


Os chineses têm formas bastante peculiares de contar. Para se ter uma idéia, assim como usamos "seis" para contar qualquer coisa e "meia" para falar o número de um telefone, o número dois para eles se chama "èr" mas quando contam algo usam "lián". E assim como em português "meia" e "seis" são palavras diferentes, em chinês "èr" e "lián" têm ideogramas diferentes: "二" e "两".

Só que no modo chinês de pensar, conta-se de forma diferente do que no ocidente. Os chineses têm um elemento extra na cultura deles que convencionou-se chamar de "classificador". Quando você conta duas canetas, você não diz apenas "duas canetas" você diz "duas zhī canetas". Para esse "zhī" não existe tradução porque não existe aplicação para nós. Para três homens é "três ge homens". "Este carro" dizem "este bù carro". Não é da nossa cultura usar isso, mas eles fazem e fazem mais. Tiram o substantivo da frase e usam apenas o classificador, de forma que "duas canetas" vira "duas zhī", "três homens" pode virar "três ge".

Para dinheiro, eles têm esse classificador, também. Sua pronúncia é "yuán", de forma que o dinheiro deles não se chama yuán, apesar de ser utilizado de forma generalizada na imprensa internacional. O dinheiro deles se chama Rén Míng Bì, que significa moeda do povo, cuja abreviação é RMB, da mesma forma que nosso dinheiro se chama Real e sua abreviação é R$, o Dólar é abreviado para US$ e o Euro para €.

Assim como usam Rén Míng Bì para a própria moeda, para o dinheiro dos Estados Unidos (Mĕi Guó) usam Mĕi Yuán e para a da Europa, Ōu Yuán. O Real aparece escrito Hēi Ào (o "h" é pronunciado como "r").

É da nossa cultura fazer algo diferente. Algo que custa 3 mil reais vira "3 paus" sendo que já foi "3 barões", quando o Barão do Rio Branco estampava a nota de mil cruzeiros. E é da cultura dos chineses fazer algo bastante parecido. Informalmente, o classificador "yuán" foi substituído por "kuài", sendo normal ouvir que o preço de algo é "cinco kuài". Eles têm também o "centavo" deles, que se chama "fēn". E têm mais uma coisa que não usamos aqui, unidade de "dez centavos", que é pronunciado "jiăo" mas popularmente conhecido como "máo", de forma que "30 centavos" é "três máo", "70 centavos", "sete máo".

terça-feira, 6 de maio de 2008

O Século da China


Você sabia que em um casamento tradicional chinês a noiva usa um vestido vermelho? E que chineses usam bicicletas elétricas, que fazem cerca de 80 quilômetros com 20 centavos de dólar de carga para carregar sua bateria, para se deslocarem fazendo menos esforço? E que a partir de 1995 foram criados no país cerca de 30 mil áreas de recreação a céu aberto para que os idosos pudessem fazer exercícios físicos? E que há 40 milhões de ditos cristãos na China? Uhm... E que existem escolas para que os pais aprendam e discutam entre si formas de lidar com seus filhos únicos? Sabia?

Essas informações todas estão na últida edição da revista National Geographic Brasil, um volume refinado, com incrível edição de fotos. Os textos retratam muito do cotidiano dos chineses e tratam dos graves problemas causados pela perturbadora poluição que alcança também o rio Amarelo, "que nos últimos 2,5 mil anos transbordou e mudou de curso mais de 1,5 mil vezes, ganhando o apelido de 'Tristeza da China'". O link deste parágrafo oferece várias imagens que não estão na edição impressa.

Um gráfico aponta que em conseqüência da política do filho único, a partir de 2015 vai diminuir o número de pessoas no mercado de trabalho, mas ressalva que não faltará gente para trabalhar devido à absorção de mão-de-obra do campo nas cidades.

Vale muito a pena a leitura até para aprender como é feito o bombardeio de iodeto de prata nas nuvens para que chova em locais determinados.

O editor da revista, Ronaldo Ribeiro, esteve por três meses na China em 1985, quando, segundo ele, os chineses tinham medo de ficar próximos a estrangeiros, que podiam usar poucos hotéis. Ele conta na edição que os carros andavam com faróis apagados para que as lâmpadas fossem poupadas. Mas 22 anos depois, não há mais sinal dos arruinados táxis, que agora são Audis - e andam com os faróis bem acesos.