quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Chá com Sokan Kato


Uma curiosidade sobre a China é que chá, em chinês, é chá mesmo. Inclusive com o acento, em pin yin. Só que isso não adianta nada porque a pronúncia é diferente e mesmo que você escreva "chá" e mostre a um chinês, ele não vai entender nada porque são poucos os que dominam o pin yin, que é escrever em algarismos romanos a pronúncia dos fonemas chineses.

Como não tomo café, segunda-feira pela manhã tomei um chá com Sokan Kato, diretor da China Turismo, a Chinatur, que voltou sábado da China, para onde levou um grupo de 42 pessoas à Feira de Importação e Exportação de Guangzhou (Cantão), que é semestral.

Segundo me contou, notadamente a cada edição a feira está mais profissional e sua característica está mudando: onde antes se tratava de exportação, agora se negocia também importação, "pois eles precisam de energia, idéias e tudo o mais".

No passado a China já se pronunciou auto-suficiente em tudo e isso lhe rendeu duas Guerras do Ópio com a Inglaterra, que era muito descontente por importar muito dos chineses e não vender nada a eles, o que afetava sua balança comercial.
O que chamou muito a atenção de Sokan é que nem a revista oficial da feira nem em toda a feira havia menção aos Jogos Olímpicos de Beijing 2008. Guangzhou não está incluída no projeto olímpico. Ele e seu grupo chegaram à China por Hong Kong, onde acontecerão as disputas do hipismo dos Jogos. Lá sim há mensagens de "Hong Kong e Beijing unidos pelos Jogos". Em Pequim os logos das Olimpíadas estão em vários pontos da cidade, inclusive na Muralha da China (foto).

Sokan foi a Pequim e aproveitou sua estada para garantir seus negócios. Há mais de um ano ele negocia o recebimento de uma carga de 500 (quinhentos) ingressos para a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos. Já tem 108 (cento e oito) interessados.

Para ter uma idéia de como são raros, a Air China é parceira oficial de Beijing 2008 e colocou anúncio em jornais para infomar que quem comprar uma passagem de primeira classe, ganha ingresso para assistir às Olimpíadas, mas faz uma observação: "menos para as Cerimônias de Abertura e de Encerramento".

Os hotéis com os quais a Chinatur opera normalmente em Pequim foram reservados pelo Comitê Olímpico, mas Sokan contou que já conseguiu 25 apartamentos em um flat e mais 25 no Zhaolong Hotel Beijing, mas garante que dependendo da demanda conseguirá 150 vagas.

Atualmente, uma diária no Zhaolong sai por 350 dólares, mas quem tem o projeto de ir para lá durante os Jogos tem de trabalhar com a idéia de que custará cerca de 700 dólares em agosto de 2008.

No Brasil, a venda de ingressos oficiais será definida pelo Comitê Olímpico, mas Sokan "tem absoluta certeza de que vai ter mais ingressos" graças a seus contatos na China, cultivados em 30 anos, completados em 2008, que sua empresa leva brasileiros para China.

Sokan faz um alerta que vale a pena ser divulgado: atualmente, ninguém sabe como serão oferecidos os ingressos. A China colocou à venda nesta semana 1,5 milhão de ingressos e cerca de 2 mil foram vendidos porque o site não suportou a procura. Então, atenção com empresas desconhecidas que pedem depósito adiantado para garantir ingressos lá na frente: pode ser um golpe.

A nova Pequim


As Olimpíadas Beijing 2008 são um momento para a China se mostrar ao mundo após sua abertura econômica, mas o país tenta aproveitar o momento para apresentar uma nova Pequim.

Não me sai da cabeça a frase-compromisso do ministro do Meio Ambiente da China, Xie Zhenhua, em dezembro de 2000: "Hoje, a qualidade do ar em Pequim não é tão boa quanto a de Paris. Mas em 2008 será igual." Disse isso antes mesmo de Pequim ser anunciada como a sede dos Jogos Olímpicos.

Passados quase sete anos daquele dia, a poluição no céu de Pequim não parece ter mudado tanto assim, mas na verdade, a cidade não é mais a mesma. Apesar de ser a capital do país, Pequim era uma cidade industrial, com antigas e grandes fornalhas e fornos queimando toneladas de carvão (foto).

É mais ou menos como se a capital do Brasil tivesse sido transferida para Cubatão e fizessem os Jogos Olímpicos lá.

No entanto, assim como em Cubatão, muitas dessas siderúrgicas já foram desativadas nas últimas décadas e está cada vez mais difícil encontrá-las, ao menos próximo ao centro. Mais de 200 indústrias foram tiradas da área urbana. A cidade ganhou um novo distrito industrial, mais moderno. Muitas residências já queimam gás natural para ficarem aquecidas no inverno e há investimentos maciços para fomentar empresas de alta tecnologia e potencilizar o turismo, como atesta o historiador e amigo Paulo Vicentini, que mora em Pequim há praticamente cinco anos.

Ele me contou que apesar de ainda ser difícil ver o céu azul, a poluição atmosférica industrial está diminuindo e crescem os distritos tecnológicos de Haidian e Yizhuang, onde há incontáveis empresas de alta tecnologia e mais de uma dezena de universidades e institutos de pesquisa ligados à Academia de Ciências da China.

Bom papo o Paulo Vicentini, que está prestes a tocar um projeto pessoal de percorrer a Rota da Seda. Temos nos falado muito, apesar do fuso-horário.

domingo, 28 de outubro de 2007

Palestra do Consul Geral na USP


A Agência USP de Notícias publicou em seu site na internet que na quinta-feira, 1º de novembro, o Consul Geral da República Popular da China em São Paulo, Sr. Sun Rong Mao, fará uma palestra aberta no prédio de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
O evento, organizado pelo Departamento de Letras Orientais da FFLCH, se chama O Intercambio Cultural e Internacional com a China e será feito em lingua portuguesa.

Quem quiser participar pode obter maiores informações ligando para o telefone 3091-4299, mas o básico é que está marcado para começar às 10 horas, na sala 260 do prédio de Letras, na Rua do Lago, 717, na Cidade Universitária, em São Paulo.

Se você for, a gente se encontra lá, porque é uma excelente oportunidade. O mapa mostra onde fica dentro da USP. Obrigado, Cecília, por me avisar.

sábado, 27 de outubro de 2007

Primavera em Pequim


A cultura também é fortemente influenciada pelas condições climáticas. Primavera em Pequim é muito diferente da primavera na Europa. Um dos motivos é o que registra a foto aí do lado: as tempestades de areia.

Fortes ventos passam pela Mongólia Interior e acabam levando areia até Pequim, que fica coberta de areia, como dá para ver aí. Há registros de nuvens de areia que chegaram até a Coréia do Sul e, dizem, até os Estados Unidos.

É a natureza cobrando seu preço. O solo chinês é cultivado há cinco mil anos e para acomodar sua população de 1,3 bilhão de pessoas, não sobrou muito da vegetação nativa, evidentemente, como em todos os outros lugares por que o homem passou. Mais de 70% (setenta por cento) do território chinês sofre com desertificação, que acaba favorecendo também o surgimento dessas nuvens de areia.

De qualquer forma, quem está fazendo planos para assistir os Jogos Olímpicos de Beijing 2008 não tem com que se preocupar em relação a isso: historicamente, essas tempestades de areia ocorrem, quando ocorrem, apenas na primavera, não no verão, estação do ano na China no mês de agosto.

Ciente dos problemas que decorrem dessa desertificação, o governo chinês tem trabalhado o reflorestamento de seu território, o que tem causado fortes pressões sociais, já que estão sendo reflorestadas áreas habitadas muita gente protesta por ter de se mudar, além de reclamar dos valores das indenizações.

A preocupação com o verde levou engenheiros a pensarem soluções criativas para o Parque Olímpico para Beijing 2008. Estou levantando alguns dados e vou escrever um post a respeito em breve.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

O pequeno domador de baleias


Ficou linda a foto e é incrível a semelhança com a capa do disco "Never Mind", do Nirvana. A não ser pelas diferenças entre os valores envolvidos na questão.
O menino de quatro anos se apresenta com baleias na China e causa sensação, além de desencadear várias polêmicas.
Em algum momento eu vou descobrir como é que faz para esconder um link desse tamanho por "clique aqui".

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

COI dá sinal verde para Olimpíada Verde


A forte poluição em Pequim voltou a ser destacada por membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) que gerenciam os Jogos Olímpicos, mas apesar disso, as obras seguem no ritmo previstmo nos projetos.

Hoje, a agência de notícias Reuters distribuiu uma matéria, publicada pelo portal do Estadão (http://www.estadao.com.br/esportes/not_esp70454,0.htm), em que o COI afirma não existir qualquer risco para quem quiser acompanhar os Jogos Olímpicos e que a competição atenderá "aos altos padrões de exigência".

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Four letters word


Em inglês, "four letters word" é um termo usado para definir os palavrões, aquelas palavras absolutamente naturais no linguajar de todo mundo em momentos muito específicos, mas que por serem impublicáveis, são substituídas por asteríscos, como em "f***" ou "s***".

Há uma música do "Cake" que diz "vindo de você, amigo é uma palavra de quatro letras", brincando com a questão.

Já em chinês, uma expressão com quatro ideogramas não tem nada a ver com palavrões. São os chéng yŭ, provérbios chineses, que comumente são expressos em quatro ideogramas, mas podem também aparecer com três a oito ou em pares de frases com quatro a sete ideogramas. Mas, tradicionalmente, é expresso mesmo em quatro palavras, que pronunciadas resumem bem uma situação e demonstram muita habilidade no uso da língua.

Imagine você comentando com um chinês um fato importante e quando você termina de falar, ele responde, em português, apenas "aqui se faz, aqui se paga". Se usasse corretamente, insinuaria sua opinião a respeito do assunto e ao mesmo tempo demonstraria conhecimento do idioma.

É mais ou menos assim que pode ser usado o chéng yŭ. A diferença é que muitas vezes são baseados em um fato histórico, diferentemente da língua portuguesa, onde passa a valer a parábola que transmite um conhecimento empírico como em "de grão em grão a galinha enche o papo.

No http://www.chinesecharacters123.com/ há exemplos sobre como funcionam. "破釜沉舟" significaria, segundo o site, algo como "destrua as panelas e afunde os botes", uma referência a uma batalha vencida por um general graças à ordem de "eliminar a tentação de desistir e voltar atrás" ao destruir o que possibilitaria isso.

A wikipedia tem exemplos melhores em http://en.wikipedia.org/wiki/Four-character_idiom.

一日千秋 (yí rì qiān qiū) significaria "um dia, milhares de outonos" e seria usado para se referir a mudanças rápidas, como se acontecesse muita coisa em um único dia, mas 一日千里 (yí rì qiān lĭ) significaria "um dia, milhares de milhas" para se referir a progressos muito rápidos em uma questão.

Não é simples de explicar, mas vale a pena dominar o assunto.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

A cor do verão


A morenice é muito valorizada no Brasil, onde todo mundo gosta de pegar aquela corzinha no verão para ficar com cor de saúde. Por aqui se alguém está muito branco, parece pálido, e já perguntam se está doente. Mas os padrões chineses parecem ser bem diferentes.


Um amigo me recomendou ler o blog Migrante Digital (http://migrantedigital.blogspot.com/), da Guta Nascimento, e encontrei uma história que mostra bem como os valores podem ser diferentes entre chineses e brasileiros em detalhes que nem nos damos conta.


A Dayse Espinola colabora com o Migrante e escreveu que na China os cremes e sabones contêm clareador solar, para a pele ficar bem branquinha. Uma chinesa ainda recomendou que ela usasse para que desaparecesse a marquinha de seu biquíni.


Vale uma visita (http://migrantedigital.blogspot.com/2007/09/no-marquinhas-de-bikini.html). Se aqui já tem bronzeamento a jato, com spray que dá cor instantânea à pele, daqui a pouco vamos descobrir que na china deve ter algo para sair clarinha.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Fú Wā ajudam a enteder o mandarim


Mais difícil do que aprender a falar expressões básicas em chinês é entender quando alguém fala com você. Outro dia estava estudando no metrô e uma mulher que me viu escrevendo puxou conversa, em chinês.

- "Nán bù nán?"
- "Hĕn nán", respondi.

Ela queria saber se estava difícil e respondi que estava muito difícil. A partir daí, não entendi mais nada do que ela falava.

Era Vitória, que nasceu em Taiwan e dá aulas de mandarim em São Paulo e queria saber há quanto tempo eu estudava, o que eu já sabia falar. Muito simpática.

Para ajudar os turistas a treinarem o ouvido, os Fú Wā, os mascotes de Beijing 2008, estão em uma página na internet apresentando a pronúncia de algumas expressões em chinês, francês e inglês. Está no link http://en.beijing2008.cn/languagecorner/. A cada dia está sendo acrescentado um novo diálogo.

Há um problema, porque a carta que tem o pin yin, a romanização da pronúncia chinesa, não tem a tecla para tocar a frase, que é repetida duas vezes. Vale a pena forçar para entender o que dizem (e como dizem). Mas, aparentemente, nem sempre a frase é dita da mesma forma como está escrita.

Resultado do rodízio de veículos

A agência chinesa de notícias Xinhua divulgou que de acordo com o Escritório de Proteção Ambiental de Beijing o rodízio de carros feito na capital chinesa de 17 a 20 de agosto reduziu de 17% a 29% em cada um dos dias a presença de dióxido de nitrogênio na atmosfera em comparação com as medições do dia 16.

Além disso, teriam sido reduzidos de 15% a 20% os níveis de monóxido de carbono e óxido de nitrogênio. O escritório aponta que foram evitadas emissões de 5.815 toneladas de gases poluentes.

Como tudo na China, os números são imensos. Para se ter uma idéia, em cada um dos dias foram retirados das ruas cerca de 1,3 milhão de veículos.

Quando se candidatou para receber os Jogos Olímpicos, o ministro do meio ambiente garantiu que o ar da cidade ficaria tão puro quanto o de Paris.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O Rei de Jade


Foi só escrever sobre o jade incrustado nas medalhas olímpicas e me falaram sobre outra representação. O Rei de Jade (ou Imperador de Jade) é a entidade suprema do taoísmo, o ponto de partida para uma vida digna, uma filosofia que é considerada mais antiga até mesmo que a própria China.
O taoísmo seria o caminho do bem para uma vida de boa fortuna, mas a complexidade de seu significado é de difícil compreensão, pois se é o caminho também é o caminhante e o próprio caminhar. É o todo, por isso, o princípio em suas mais diversas abordagens. Na imagem Lao Zi, que fundamentou a linha atual do taoísmo.

No verso da medalha com a deusa Nike, a presença do jade em homenagem ao Rei de Jade uniria dois representantes dos valores mais nobres das culturas ocidental e oriental em uma miscigenação de deuses de culturas tão diferentes.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

As medalhas de Beijing 2008


Supõe-se que nos Jogos Olímpicos apenas os melhores do mundo têm espaço, mas não é bem assim e a maior prova disso é Eric Moussambani, de Guiné Equatorial, que participou a convite das eliminatórias dos 100 metros nado livre da Olimpíada de Sydney-2000 mesmo mal sabendo nadar. Seu tempo foi mais do que o dobro dos demais concorrentes.

Seu esforço para terminar a prova causou comoção e deixou as Olimpíadas muito mais humanas, assim como a participação de atletas menos competitivos que participam dos Jogos Pan-Americanos, mas são os maiores atletas do mundo que atraem todas as atenções e eles vão para lá em busca de nada mais que uma medalha olímpica, a glória máxima do esporte.

Em Beijing 2008, o objeto de desejo dos melhores atletas do mundo terá 7 centímetos de diâmetro e 6 milímetros de espessura. Para deixar sua marca histórica, os chineses vão incrustar jade no verso das medalhas, sua pedra nobre. Segundo o site oficial, a medalha de ouro com jade "simboliza nobreza e virtude e sintetiza os tradicionais valores chineses de ética e honra". Dessa forma, simbolicamente, os chineses unem ao símbolo da influência grega na cultura ocidental seus próprios valores orientais de nobreza.

Na frente serão mantidas as imagens da deusa grega da vitória Nike e do Estádio Panathinaikos, onde foram realizados os primeiros Jogos Olímpicos modernos, em Atenas-1896.

A partir de Amsterdam-1928, a face frontal da medalha passou a ter a deusa sentada e segurando milho em uma mão e uma coroa na outra, mas a partir de Atenas-2004, a deusa passou a voar sobre o estádio.

No site da organização dos Jogos de Beijing, mais precisamente no http://en.beijing2008.cn/55/69/olympicmedal.shtml, é possível fazer um maravilhoso passeio pela história olímpica, conhecendo cada uma das medalhas distribuídas nos Jogos Olímpicos desde 1896.
Clicando nas imagens estão à disposição as duas faces das medalhas, mostrando os valores que cada país agregou ao maior símbolo esportivo da hístória da humanidade neste planeta. Ao lado está a oferecida em Atenas-1896.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

A riqueza do Rei







Não sei dizer qual o valor do jade no Brasil, mas na China é uma pedra preciosíssima, apesar de também não saber dizer qual o valor material disso no momento.

De qualquer forma, é tão preciosa que seu ideogra é semelhante ao "Wáng", o Rei. Apesar de não ter ficado lá muito bonita a composição aí de cima, o ideograma da direita é o do Rei, o do meio, o jade. A única diferença entre eles é o último traço, o menorzinho, à direita, que forma "a riqueza do Rei".

O ideograma maior, à direita, é o nome da China em mandarim, "Zhong Guó", o País do Meio. Esse "Guó" aparece no nome de vários países. Pode ser país ou reino, mas passa a comparação dos ideogramas, passa a idéia de "limite das riquezas do Rei".

Tudo isso para falar das medalhas...

Os olhos da raposa


Via de regra, os personagens das fábulas chinesas são tirados da natureza, sejam animais, o vento ou as árvores. Antes de falar das medalhas que serão distribuídas nas olímpiadas e a diferença delas para as do Pan, mais uma fábula que encontrei.

Uma galinha, incapaz de continuar suportando o perigo que a rondava, procurou os animais mais fortes para reclamar que suas semelhantes estavam sendo ameaçadas pela raposa e pediu a eles que fizessem justiça e encerrassem a selvageria da raposa. "Se você olhasse dentro daqueles olhos", cacarejou ela, "iria me compreender".

"Já olhei suficientemente", rosnou o tigre. "Eles expressam apenas timidez e cautela. Não há o que temer ali."

"A raposa avança em minha direção todas as vezes em que me vê", grunhiu o javali. "O que vejo naqueles olhos são é modéstia e clemência."

"Eu conheço a raposa muito bem", uivou o lobo. "É do tipo que sempre desaparece quando há uma luta. Os olhos da raposa são meigos e submissos."

"Você estão todos enganados!", voltou a cacarejar a galinha. Por que vocês não conseguem ver astúcia e crueldade naqueles olhos?"

"Segure sua língua!", disse o tigre, "não vou aceitar você inventado acusações contra a raposa."

"Você não devia ser preconceituosa", disse o javali.

"Você tem de ser responsável pelo que diz", disse o lobo. "É tão errado o fraco intimidar o forte quanto o forte intimidar o fraco."

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Metrô maior e mais barato


Os Jogos Olímpicos levam benefícios reais para a cidade que os organiza, diferentemente dos Jogos Pan Americanos. No próximo domingo será inaugurada a linha 5 do metrô de Pequim; em 2008, mais três. A rede passará de 114 quilômetros para 200 quilômetros.

A China vai fazer o possível para passar a melhor imagem que puder aos ocidentais que a visitarem no ano que vem. Ou pelo menos para mostrar coisas boas para equilibrar os imensos problemas com que lida.

Para reduzir a poluição, já testou um rodízio em que durante uma semana, em um dia só circulam carros com placas pares e no outro, só com ímpares, que deverá entrar em vigor também durante a Olimpíada.

No mês passado, patrocinou uma semana para que os chineses priorizassem o uso de transportes coletivos em 108 cidades, entre elas as que receberão competições dos Jogos Olímpicos, e a partir de domingo, reduzirá de 3 yuans para 2 yuans (cerca de 50 centavos de real) o preço do bilhete do metrô. Quer assim tirar carros das ruas para melhorar a qualidade do ar.

Quando apresentou sua candidatura à Olimpíada, Pequim garantiu que teria ar tão puro quanto o de Paris. Se conseguir isso nos 11 meses que restam até os Jogos, será um fenômeno mais impressionante do que seu crescimento econômico.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

O leão que não gostava de bajulação


Em seu trono, o Rei Leão estava ficando cansado da bajulação de seus súditos. "Que horror! Todos os dias eles me enchem de elogios. Meus ouvidos já estão ficando cansados. Como são tolos por imaginar que eu, um rei, tenho apreço por aduladores!"

Abanando a cauda, um cão tentou se aproximar do trono e foi logo tecendo seus elogios ao Rei. "Poderoso Rei, sem Vossa Majestade nós não teríamos paz. Todas as feras são leais a ti. Por Vossa Alteza nós sacrificaríamos nossas vidas."

"Saia daqui!", rugiu o Leão dando um salto na direção do cão. "Não me bajule nunca mais! Eu detesto aduladores!"

O cão se foi, literalmente com o rabo entre as pernas.

Uma raposa doce acompanhou tudo mantendo certa distância. Aparentava ser decente e ter boa educação. Nem arrogante nem humilde, se curvou frente ao Rei Leão, olhou de esgueio para o cão e disse calmamente:

"Rei Leão, mas por que tamanha fúria? Espera sabedoria de uma criatura tediosa como um cão? Certamente não há ninguém tão estúpido! Ele certamente não faz a menor idéia de que você é a pessoa mais modesta neste mundo! Bem, isso não chega a ser uma surpresa, já que muito poucos neste mundo dispensam elogios. Eu juro que nunca conheci ninguém como você, tão sábio e tão honesto!"

"Isso lá é verdade", disse o Rei Leão, satisfeito. "Venha, deixe-me recompensá-la com uma grande ave."

A imagem é "Folktales of Guizhou Ethnic Minorities", do chinês Liu Yong, e está no site "http://www.accu.or.jp/noma/english/works/78-98/pages/007.html"

Fábulas chinesas


A literatura chinesa pode ser muito rica e útil para conhecermos como os chineses contam suas histórias ao longo dos séculos, principalmente quando traduzida pelo menos para o inglês, porque ainda é muito difícil compreender os ideogramas.

Nesse contexto, as fábulas são um ótimo exemplo de como a cultura foi transmitida ao longo das gerações, seja lendo as ancestrais ou as contemporâneas.

Dizem que as fábulas chinesas são contadas pelo menos desde 770 a.C. e continuam sendo criadas até hoje.

Conforme eu for encontrando com elas, coloco aqui.