quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Às fábulas chinesas


Os três ratos

Três ratos famintos viram uma grande tigela com oléo e rapidamente deram um jeito de subir até seu topo, os três, e ao chegarem lá em cima descobriram que havia pouco oléo para que eles consumissem. Mas pior que isso, a tigela era alta demais para que eles conseguissem beber.

Olharam uns para os outros e chegaram a uma solução: cada rato seguraria o rabo de um outro entre seus dentes de forma que o que estivesse na ponta conseguiria beber uma parte do óleo do fundo da tigela, e todos beberiam enquanto se revezassem nas posições. Os três prometeram que nenhum deles seria egoísta.

Enquanto começava a beber, o primeiro rato pensou com si próprio: "Não há muito óleo e tive muita sorte de ser o primeiro a beber. Então, vou me saciar."

O ratinho que estava pendurado entre os outros dois pensou com ele mesmo: "Não há muito óleo e o que eu vou beber se acabar tudo? Acho melhor soltá-lo, pular lá dentro e beber a minha parte."

Mas ele era preso pela cauda pelo último rato, que estava apoiado na borda, sustentando os outros dois. E ele pensou com si próprio: "Não há muito óleo. Será que eles vão deixar a minha parte? Acho melhor soltá-los e pular lá dentro para beber minha parte."

Quase simultaneamente, o segundo rato soltou o último, enquanto tinha a cauda solta pelo primeiro e caíam os três dentro da tigela, de onde nunca mais conseguiram sair.



Dúvida

Quem é mais admirável? O sol que ilumina o dia ou a lua que brilha no escuro?



O gato e o alazão

O gato estava no portão e viu passar um alazão montado por um príncipe e ficou encantado com os guizos que adornavam sua sela e como o som que emitiam e a luz do sol que refletiam deixavam a montaria imponente e assustadora e enquanto lambia uma das patas dianteiras imaginou o efeito que guizos fariam sobre si. "Se eu tivesse sinos como esses em torno do meu pescoço, os ratos ficariam amedrontados assim que me vissem ."

Procurou e procurou até encontrar um guizo que pudesse satisfizer seu desejo e voltou para a casa de seus donos todo pimpão, fazendo cara de mau. Mas assim que ouviam o guizo soar, os ratos sabiam exatamente onde o gato estava e tranqüilamente sabiam a hora em que podiam deixar o buraco para roubar a comida do lar.

E o gato ficou orgulhoso ao perceber que nenhum rato ousava aparecer à sua frente desde então.


A bicicleta e o sinal de trânsito

As bicicletas são muito queridas na China e por isso mesmo poderiam ser muito vaidosas, como suspeitava um sinal de trânsito, que um dia resolveu questionar uma delas perguntando: "Bicicleta, você é muito segura de si, nunca a vi parar quando passa por mim. Você não teme cair por aí?"

A pressa de sempre não impediu a bicicleta de ficar assombrada com a dúvida do sinal de trânsito. Reduziu um pouco a velocidade, encarou o curioso sinal e respondeu rapidamente antes de acelerar: "Como bicicleta que sou, só cairia se parasse de correr."



O rato e o chifre

Um rato se enfiou dentro de um chifre de boi e não conseguia encontrar o caminho de saída. Entrou e entrou, cada vez mais fundo, até ouvir do chifre: "Por favor, recue, meu amigo. Quanto mais você avançar, mais apertado irá ficar."

Mas o roedor não estava acostumado a ser tuteado e debochou do conselho. "Sou um herói na minha família e sempre superei todas as dificuldades, sempre avançando e nunca retrocedendo", disse com um tom de voz contrariado.

"Mas você pegou um caminho errado!", alertou inutilmente o chifre. "Obrigado, mas eu vivi em buracos toda a minha vida, como eu poderia estar errado agora?", retrucou o rato, instantes antes de morrer sufocado.


A resposta da lua

Em uma noite que parecia dia, a lua reinava resplandecente no céu fazendo gritar o topo das montanhas que determinavam os limites da cidade, para deleite de um viajante que por ali passava e não suportou manter-se calado. "Como és bela, mais sol que o próprio sol, que controla apenas o dia enquato tu vives o dia e predomina na noite. És um anjo sagrado, a esperança da humanidade, pois garantes a luz que afasta a escuridão total."

Exatamente no mesmo momento, um ladrão espreitava em uma esquina o turista e se dirigia também à lua. "Desapareça daqui, seu demônio gelado. Pudesse eu e a envolveria em uma nuvem negra eternamente para que nunca mais mostrasse essa cara pálida que me impede de agir com tranqüilidade."

Incrédulos, ouviram os dois, o poeta e o ladrão, a lua se manifestar em sua luz terna e eterna. "Não sou melhor que o sol, de quem empresto a luz, nem aos títulos de anjo sagrado ou demônio faço jus. Sou apenas eu mesma, lua que os conduz."

4 comentários:

Nil Lino de Mattos disse...

Olá, gostei muito do seu blog...será que conhece alguma fábula ou lenda chinesa que envolva " alimentos, culinária, etc..."?
Grata

Nil Mattos

Valmir Storti disse...

Nil, me desculpe pela demora para responder. Estava em viagem e voltei ontem. Eu vou olhar as referências de que disponho. Obrigado pela leitura e pelo contato.

Joana Pequi disse...

Eu adorei as fábulas, muito bacanas. Parabéns.

Wagner disse...

Olá Valmir
Parabéns por teu blog. Fábulas são tão importantes para compreender o mundo e a nós mesmos.
Tenho uma dúvida sobre a fonte dessas fábulas. Pretendo usar algumas delas em treinamento, e gostaria de conhecer a fonte dessas fábulas. Você tem alguma informação nesse sentido?
Forte abraço.