terça-feira, 26 de agosto de 2008

A Grande Passarela da China

Os Jogos Olímpicos de Beijing-2008 acabaram, mas as lembranças do que foi apresentado ficarão na memória por algum tempo. Foram dias intensos, para os que aderiram ao fuso horário chinês mesmo estando no Brasil e principalmente para os que puderam desfrutar dessa experiência in loco.

A China levou o mundo para uma viagem no tempo, lembrando a todos sua antiguidade e o mérito de ser uma das poucas culturas ancestrais a terem sobrevivido às mais diversas transições ao longo da história da humanidade. Se mostrou preparada para enfrentar não apenas o atual ciclo de globalização, mas para ajudar a contruir o que virá depois dele, suportando pressões estrangeiras, terremotos, enchentes e o que mais vier pela frente. A melhor forma de influenciá-los, mostra a história, é aprender como pensam, seus hábito e valores, mesmo que seja apenas para fazer bons negócios.

Não é pouca coisa ter cinco mil anos de história documentada e ainda ter energia para se manter na liderança. Os Jogos Olímpicos, que ajudaram Barcelona a se erguer e permitiu despertar o lado sensível dos soviéticos com o choro do urso Misha na cerimônia de encerramento da Olimpíada de Moscou-1980, agora ofereceram a oportunidade de todos despertarem para a existência da China, uma grande oportunidade de ambos os lados da Muralha.

Ao assistir ao encerramento de Beijing-2008 e ouvir o jornalista Marcelo Barreto dizer que não havia ocorrido em Pequim "o choro do Misha", o ápice para ficar no coração dos apaixonados pelo esporte, me perguntei em silêncio se o objetivo não seria esse mesmo: fazer uma grande festa, mas não ofuscar o momento mais marcante de encerramento de que se tem memória, um mérito dos soviéticos, tão próximos dos chineses, no momento em que a China se afastava do bloco soviético. Apenas um pensamento.

Ficou mais uma vez claro que tudo é questão de ponto de vista. A dublagem da pequena cantora e os virtuais passos do gigante que chegava ao Ninho do Pássaro são o quê na era das transmissões via satélite?

Cada um faz sua leitura, afinal, mesmo o que conhecemos por Grande Muralha da China poderia muito bem ser chamado de "Grande Passarela da China", afinal, quem a vê de fora a enxerga como uma barreira intransponível, mas quem está sobre ela tem outra noção, pois enquanto os inimigos tinham de se locomover subindo e descendo as escarpas das montanhas para atacar os chineses, os cerca de 100 mil soldados das tropas imperiais podiam rapidamente se mover em seus cavalos sobre os picos dessas montanhas, os que lhes dava sensível superioridade sobre seus adversários para manter o domínio do território conquistado, o que poderia inclusive dar um novo significado para a expressão "ficar em cima do muro". Depende do muro, do lado em que você está e de suas intensões.

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